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João Dotô


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João Dotô

João Dotô é um cantador de repente paraibano residente em São Paulo há quase 30 anos. Em entrevista do dia 25 de agosto, feita no Vale do Anhangabaú durante o evento paulistano 100 anos de Gonzagão, ele conta como começou a fazer repente e como foi a sua chegada a São Paulo.

A: Onde você nasceu?

JD: Na Paraíba, cidade Imaculada. Uma cidade do sertãozão bruto, só chove um dia a cada três anos.

A: Quantos anos você tem?

JD: Eu faço 52 anos agora, dia 28 de outubro de 1960. [já tem 52 hoje]

A: Como você começou a fazer repente? O que te influenciou a isso?

JD: Adorar a cultura nordestina e a preguiça de trabalhar, porque não é fácil levantar cinco horas da manhã, e acompanhar o pai batendo uma enxada pra plantar milho. Eu estudei pouco, mas Deus me deu cultura e inteligência, muitos doutores formados não conhecem o que conheço do mundo. E, no final, eu não conheço é nada. Mas segui essa estrada, construí uma família, construí amizades, construí parceiros de violas.

A: Quando você começou a fazer repente? Como foi?

JD: Comecei por acaso. Conheci o cantador paraibano Feitosa do Calumbi, que me chamou para fazer cantoria e eu disse: “Rapaz, eu não sei fazer isso”. Mas aí comecei e, com um mês, já tinha uma viola. Eu disse: “Feitosa, vamos pra rádio” e ele falou não, falou que era pra eu trabalhar.

Desde os onze anos de idade eu pegava boi do mato. Um dia, montei num cavalo, fui pegar o boi, mas ele era mais rápido do que meu cavalo e do que eu. Não peguei o boi, voltei pra casa e disse “Pai, a partir de hoje eu não trabalho mais, vou ser cantador”. Ele não gostou, queria me bater. Por isso, eu fugi do mundo: fiz três dias de viagem, com carona e com a viola e fui morar em Irecê, na Bahia.

Cheguei lá, arrumei um emprego e comecei a trabalhar. Com três dias na cidade, já era encarregado de uma fazenda. Fiquei na Bahia trabalhando e só depois de três anos voltei pra casa. Quando cheguei, pensei “Será que o pai quer bater n’eu ainda?”, mas ele até quis matar um cabrito pra fazer uma cantoria. Na mesma semana resolvi ir pra São Paulo ganhar a vida. Zé Pereira, meu irmão, foi comigo.

A: Quantos anos você tinha?

JD: Naquela época já estava com 23 anos. Voltei lá pra Paraíba uma vez e meu irmão uma. Meu pai faleceu, minha mãe morreu e eu sinto saudade dos dois. Foram embora, mas deixaram eu, um legítimo representante.

A: Como foi a vinda para São Paulo? Onde você foi morar?

JD: Cheguei em São Paulo e logo comecei a trabalhar, meu primeiro emprego foi de coveiro. Trabalhei dois anos e seis meses no Cemitério da Paz. Aí, surgiu uma vaga e eu virei vigia, nem sabia fazer caligrafia, mas rapidinho acabei virando apontador e, depois, fui auxiliar administrativo. Tinha um bom futuro, mas acabei destruindo tudo isso depois que me apaixonei por uma mulher que hoje é a mãe da minha filha. Estamos juntos há 27 anos, ela destruiu minha vida todinha do lado financeiro, mas do lado do amor, ela me deu uma filha de presente que não troco por nada.

A: E a cantoria nessa época?

JD: Cantava nos churrascos, mas tudo de graça, não cobrava dinheiro não.

A: E agora?

JD: Agora a gente ganha umas coisinhas em algumas apresentações, mas em outras não. Há quinze dias fui pra Lençóis Paulista, cantei 15 minutos e recebi 500 reais. Mas tem horas que canto três dias, quatro, e não ganho nada.

A: E você tem algum outro trabalho além do repente?

JD: Eu trabalho. Quando minha mulher sai de casa, tenho que limpar o banheiro, limpar a cozinha, cuidar do gato, forrar a cama, lavar minha roupa. Trabalho com um bocado de coisa.

A: E a sua mulher, o que ela faz?

JD: Trabalha como empregada doméstica. Minha filha Tatiane, que tem 24 anos, é supervisora de uma multinacional. É uma menina decente. Eu só não digo que não é filha minha porque a bochecha é inchada e é bruta igual a mim. É inteligente, nota 10.

A: E se você tivesse que fazer um repente agora, você faria?

JD: Pra você ou pra elas?

A: Pra sua vida.

JD: Tatiane é minha filha,

Marlene só me publique

Em casa, quando ela sai,

só fica o meu gato Niki.

Mas como eu tenho vocês três,

sou um cantador, tô chique.

 

Hoje o meu gato Niki

deita em minha cama,

quando a mulher se atrasa,

até o gato reclama.

Só assim eu conheci

que aqueles três me ama.

 

O meu gato dorme na cama,

fica mijando em meus pés.

A mulher vai é dormir.

Minha filha é das fiéis.

Eu descobri que em casa

tenho estrelas nota dez.

 

[Ele pergunta “Esqueci. Diga seu nome? E respondo: Fernanda.]

 

Fernanda, entre os papéis,

eu fiz minha propaganda.

Eu já gravei pra você

e a Sandra que comanda.

Toda mulher é bonita,

mas a mais linda é Fernanda.

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